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XXII ENCONTRO NACIONAL DA EPFCL-BRASIL
As paixões do ser: amor, ódio e ignorância
Convidada: Ana Laura Prates
04, 05 e 06 de novembro de 2022 – Curitiba – PR


Prelúdio XX
As paixões de Portinari
José Maurício Loures

“É preciso haver uma mudança, o homem merece uma existência mais digna. Minha arma é a pintura.”
(Candido Portinari, 1945)

 

Cândido Portinari (1903-1962) é o autor da obra intitulada Guerra e paz, escolhida como imagem para representar o XXII Encontro Nacional da EPFCL-Brasil.

Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, Portinari nasceu em uma fazenda de café perto do pequeno povoado de Brodowski, no estado de São Paulo. Começou a pintar aos 9 anos e, aos 15 anos partiu para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes. Após conquistar um prêmio com o Retrato de Olegário Mariano, foi a Paris, onde permaneceu de 1930 a 1931. Ao retornar da França, direcionou o seu fazer artístico a uma incansável experimentação plástica ligada à sua história, seu país e ao drama humano. Representou, além da flora e fauna brasileiras, o homem popular no trabalho, em suas manifestações festivas e místicas, na expressão de sua sensualidade, na miséria, em suas dificuldades e em sua dor. Portinari foi um importante nome do Modernismo brasileiro, com obras predominantemente figurativas que flertam com o abstracionismo geométrico.

Na década de 1940, com a eclosão do nazifascismo e os horrores da guerra, as expressões artísticas de Portinari passaram a assumir contornos mais políticos. Foi nesta época que o artista deu início a uma série de cartazes com temas associados à guerra, em grande parte compostos para campanhas da Legião Brasileira de Assistência (LBA), a convite da primeira-dama Darcy Vargas. A LBA tinha como objetivo ajudar as famílias dos soldados enviados à Segunda Guerra Mundial, contando com o apoio da Federação das Associações Comerciais e da Confederação Nacional da Indústria. Naquela mesma época, passou a compor telas e murais com uma nova proposta de formalização estética: elementos modulares como quebra-cabeças cromáticos que sugerem aproximação com o Cubismo. Em maio de 1946, a revista portuguesa Vértice publicou entrevista com Portinari, na qual ele afirmou: “Sim, Picasso fulmina-me”.

Com a saúde condenada pela intoxicação das tintas, que continham metais pesados, Portinari, de 1952 a 1956 dedicou-se à pintura dos painéis Guerra e Paz, encomendados pelo governo brasileiro para presentear a Organização das Nações Unidas (ONU). A obra foi realizada com o apoio dos pintores Enrico Bianco e Maria Luiza Leão e é composta por 28 painéis pintados durante nove meses, depois de quatro anos de estudos, com a elaboração de 180 esboços e duas maquetes. Cada mural mede 14 metros de altura e aproximadamente 11 metros de largura. Foram constituídos de placas de madeira compensada naval com dois metros de altura por cinco metros de largura cada uma, pesando 75 quilos cada placa. A área total pintada perfaz 280m², comparativamente maior do que a obra o Juízo Final, de Michelangelo, localizada na Capela Sistina (167 m2).

Para Portinari (1947), a pintura em mural é a mais adequada para a arte social, porque o muro geralmente pertence à coletividade e, ao mesmo tempo, conta uma história, interessando a um maior número de pessoas. E que história os painéis Guerra e Paz nos contam?

No painel esquerdo, Guerra, não encontramos armas, soldados em combates, mas os clamores das vítimas. Há pessoas de joelhos com os braços erguidos ou encurvados com as mãos espalmadas, ou, ainda, em prantos com as mãos no rosto. Cadáveres adultos são velados e mulheres têm nos braços crianças mortas. Representação da dor, que é singular de cada sujeito, mas expressada pela coletividade.

No painel direito, em cores luminosas, Paz, são representados a dança, o canto, o trabalho e os jogos infantis. O artista evoca cenas da vida simples do homem do interior, na colheita, na festa, nas crianças a brincar por toda parte. Para Portinari, “Passaram os acontecimentos; só não passam os sonhos”. É perceptível a compreensão e o fascínio do pintor pela infância, representada pela inocência, pela esperança de um mundo novo e melhor.

Ao concluir os painéis monumentais, Portinari os apresentou com a seguinte frase: “Os painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que eu já fiz. Dedico-os à humanidade.” Em 1956, os painéis foram instalados na sede da ONU, em Nova York: Guerra, na entrada da Assembleia Geral; e Paz, na saída, servindo de lembrete aos líderes mundiais sobre o que está em jogo durante as assembleias e qual o objetivo final que se busca: transformar guerra em paz.

A escolha dos painéis de Portinari, Guerra e Paz, para ser a imagem do XXII Encontro Nacional da EPFCL-Brasil sobre “A psicanálise e as paixões do ser: amor, ódio, ignorância” reafirma, com as reflexões, debates e trocas de saber pretendidas em nosso Encontro, a aposta na psicanálise e no seu potencial de causar inconformismo, questionamento e desejo de mudança, na possibilidade de uma tomada de posição contra o estado atual das coisas. Esse é mais um passo para transformar e doar mais dignidade ao momento atual.

FAÇA SUA INSCRIÇÃO NO LINK: https://www.fclcuritiba.com/webinar-registration

 

Coordenação local:
Cléa Ballão
Cláudia Leone
Cláudia Valente
Fernanda Histher
Glauco Machado (coordenador)
Nadir Lara Júnior
Robson Mello
Thamy Soavinsky

Comissão Científica:
Adriana Grosman
Bárbara Guatimosim
Felipe Grillo
Ida Freitas
Leila Equi
Terezinha Saffi
Glauco Machado
Sonia Alberti (coordenadora)

Equipe de Prelúdios:
Gloria Sadala
Zilda Machado

Coordenação Nacional: CG da EPFCL-Brasil:
Robson Mello – diretor
Julie Travassos – secretária
Juliana Costa – tesoureira

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