XXII ENCONTRO NACIONAL DA EPFCL-BRASIL
As paixões do ser: amor, ódio e ignorância
Convidada: Ana Laura Prates
04, 05 e 06 de novembro de 2022 – Curitiba – PR
Prelúdio XXI
Do ab-senso ou … confundir a função com o órgão
Sandra Berta
Em O Aturdito, Lacan nos adverte do “racismo do discurso em ação”[1]. Dito racismo refere-se a confundir a função (fálica) com o órgão (pênis).
Definamos a função fálica como aquela que denota o gozo marcado por um limite, qual seja, o da castração. Desse gozo fálico, Lacan fará sua lógica, aquela que conjuga o não-todo (contingência), que define que não todo x está concernido pela função fálica, com a negação da exceção e a negação da função (impossibilidade), que define que não existe x que não esteja concernido pela função fálica.
O Discurso do analista não faz uma negação sistemática dessa dit-mention do não-todo. O mesmo “paratodiza na contramão”[2], pela contingência e pela impossibilidade, aquilo que cairia – o que se a-fundaria – na exceção (necessário) que funda o paratodo (universal reduzido ao possível). Temos que diferenciar a exceção, que modaliza um dizer que não, dos discursos que fazem da exceção o asilo da alteridade fantasmática.
Alteridade fantasmática que é a mira do ódio e que muito bem define Rithée Cevasco “esse outro que teria nos roubado o que a estrutura nos impõe como ‘falha’, como ‘falta’, como gozo sempre descompletado pela castração, malgrado os objetos mais-de-gozo que ponhamos nos dentes ou sob nossos olhos”[3]
Se o discurso do psicanalista se paratodiza na contramão é porque “lhe sucede encerrar o real em seu circuito”[4]. Precisamente, é o discurso que tem em conta a impossibilidade e a impotência de cada discurso. O discurso do analista não se fecha no significado, produz o ab-senso (ab-sense) pelos quartos de giros dos discursos, em sentido levógiro.
Ab-senso que desfaz a consistência das significações que predicam dessa alteridade fantasmática. Ab-senso que questiona o conjunto de significações que pretendem argumentar sobre essa paixão primária: o ódio ao Outro. Ab-senso que põe o peso da balança nem tanto na diferença (o que levaria ao narcisismo das pequenas diferenças, com tudo o que nele se articula de identificação), mas naquilo que se refere ao gozo, a ser entendido nas suas diferentes versões.
O racismo dos discursos em ação refere-se a essa consistência de significação. O ab-senso vai na contramão. Não confunde a função com o órgão (aqui entendido como o conjunto das significações).
O ab-senso não é o sem sentido.
Advertência para os tempos que correm: produzir do ab-senso poderia fazer do analista o que Lacan apontara em 1967: guardião da real(idade) coletiva.
[1] Lacan, J. (1973) O aturdito. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p. 463.
[2] Ibid., p. 463.
[3] Cevasco. R. La discordancia de los sexos. Perspectivas psicoanalíticas para un debate actual. Barcelona: S&P Ediciones, 2010, p. 135.
[4] Lacan, J. Op. cit., 463.
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