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XXII ENCONTRO NACIONAL DA EPFCL-BRASIL
As paixões do ser: amor, ódio e ignorância
Convidada: Ana Laura Prates
04, 05 e 06 de novembro de 2022 – Curitiba – PR


Prelúdio III
Paixões em ser…
Bárbara Guatimosim

A lição sabemos de cor
só nos resta aprender…
(Beto Guedes / Ronaldo Bastos)

As paixões do amor, ódio e ignorância são paixões do Eu. Paixões narcísicas em ser. Ser como ele ou ela; ser fulano ou fulana; ser filho de; ser mulher de; ser O!; ser A!; ser mais…

Lacan em seu texto “A agressividade em psicanálise”, critica a mentalidade antidialética e objetivante da nossa cultura que “tende a reduzir ao ser do eu toda a atividade subjetiva” (LACAN, 1949/1998, p. 120). Somente uma concepção como esta, pode fazer os sociólogos da “mentalidade primitiva”, assim como o antropólogo europeu, se espantarem quando o Bororó profere “eu sou uma arara”. Quanto a essa declaração do índio, citamos Lacan nesse mesmo texto: “em nada tem de mais surpreendente para a reflexão que afirmar ‘Eu sou médico’, ou ‘Sou cidadão da república francesa’ e, com certeza, apresenta menos dificuldades lógicas do que promulgar ‘Eu sou um homem’, o que, em seu pleno valor, só pode querer dizer isto: ‘Sou semelhante àquele em quem, ao reconhecê-lo como homem, baseio-me para me reconhecer como tal.'” (LACAN, 1949/1998, p. 120).

A paixão que escraviza o sujeito é a “paixão de ser um homem”, que é a paixão da alma por excelência: o narcisismo, que impõe sua estrutura a todos os seus desejos, mesmo os mais elevados.” (LACAN, 1946/1998, p. 189).

Essa “paixão de ser um homem”, ou paixão em ser Um, como na nostalgia da unidade do mito platônico, aciona em seu poder as armas do amor e do ódio, paixões cegas que já carregam nelas mesmas o gozo da ignorância – que poderíamos chamar também gozo negacionista, paixão de não querer saber.

Certo é que, no trabalho da análise, recebemos as paixões do ser em falta via transferência, mas então temos a chance de responder a isso de outra maneira, de modo diferente, por exemplo, de fazer amor, ou de entrar em guerra. Pela ética que nos cabe, só podemos reorientar as paixões para a causa real do desejo que, longe de ser uma “paixão inútil” da existência, nos conduz para além do amódio: ao efeito de ser que promove no ser falante o entusiasmo; à douta ignorância, essa que orienta uma continuada formação, ou deformação, a do psicanalista, e ainda, a um amor mais digno.

Coordenação local:
Cléa Ballão
Cláudia Leone
Cláudia Valente
Fernanda Histher
Glauco Machado (coordenador)
Nadir Lara Júnior
Robson Mello
Thamy Soavinsky

Comissão Científica:
Adriana Grosman
Bárbara Guatimosim
Felipe Grillo
Ida Freitas
Leila Equi
Terezinha Saffi
Glauco Machado
Sonia Alberti (coordenadora)

Equipe de Prelúdios:
Gloria Sadala
Zilda Machado

Coordenação Nacional: CG da EPFCL-Brasil:
Robson Mello – diretor
Julie Travassos – secretária
Juliana Costa – tesoureira

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