XXII ENCONTRO NACIONAL DA EPFCL-BRASIL
As paixões do ser: amor, ódio e ignorância
Convidada: Ana Laura Prates
04, 05 e 06 de novembro de 2022 – Curitiba – PR
Prelúdio XXII
As paixões do ser: amor, ódio, ignorância
Sonia Alberti
Podemos interrogar o amor, o ódio e a ignorância, a partir da disjunção formalizada por Lacan em O Seminário, livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, do ser com o sentido, para avançarmos sobre o tema deste nosso XXII Encontro Nacional da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Brasil, ou seja, o das paixões do ser.
Foi a partir da interseção de ambos esses conjuntos, o do ser e o do sentido associado então por Lacan ao Outro, que, três seminários depois, ele pode instituir não haver ser sem o Outro, lugar do penso, e que ninguém pode afirmar ser “penso” – cogito, na acepção cartesiana do termo –, sem que algo do ser esteja presente na afirmação, porque o significante afeta o afeto, como escrevia Colette Soler em 2011. Se as paixões são do ser, não podem ser sem o Outro.
Impossibilidade que aponta para uma necessária incompletude, teorizada por Freud como castração. Mas é justamente essa impossibilidade – S(Ⱥ) – que a experiência passional colmata, atribuindo ao Outro imaginariamente uma consistência de ser que lhe falta. Emana, portanto, de um movimento contrário ao da angústia, afeto que, como sabemos, surge justamente no momento em que a falta se torna mais presente como objeto a, de modo que a angústia foi mesmo conceituada por Freud como de castração. Por ser da “estrutura do Outro constituir um certo vazio, o vazio de sua falta de garantia”, como observa Lacan em seu Seminário sobre a Angústia, esta se dá por consequência dessa falta de garantia. Aliás, é porque essa é a estrutura do Outro que dela cai o objeto a, o da angústia por excelência.
Acompanhamos, ao longo dos últimos meses, a série de Prelúdios de autoria de diversos colegas, divulgados na Rede de EPFCL-Brasil, nas redes sociais e em nosso site, nos inspirando e reforçando o convite da Comissão Científica para apresentação de propostas de trabalho, versando sobre o tema do Encontro. Com uma nova metodologia, na qual privilegiaremos o encontro e o debate, abordaremos cada uma das paixões, assim como a articulação das três com o que Lacan desenvolveu quanto ao ser. Não sem levar em conta a clínica da questão, que, entre outros, pode abordar tanto os efeitos do apaixonamento amoroso na transferência ou como sintoma; o ódio como destino do que Lacan associou ao cacon grego em sua conceituação da agressividade, ou ainda a ignorância, que a leitura de Linsey McGoey associa como estratégia de poder na política do big business. Com efeito, essas três paixões identificadas por Spinoza, são atualmente estratégias que visam destruir a dúvida – novamente cartesiana –, na vertente que Antonio Quinet cunhou de ignoródio, e cabe a nós, psicanalistas, retomar a importância dela em prol de um pensamento não totalitário, de experiências plurais, e do valor da letra (lettre) em detrimento da consistência de o ser (l’être). E nessa direção já sugerimos a todos a leitura do Seminário Mais ainda…, no qual Lacan introduz as bases do que, nos anos subsequentes, chamará de inconsciente real, articulado à inércia da linguagem – lalíngua. Na contramão do Outro-sentido, ou do inconsciente saber, trata-se aqui do Outro que não sabe nada. Se o inconsciente-saber abriu as vias para a interpretação psicanalítica a partir da transferência que é, antes de tudo, amor ao saber, Lacan nos adverte: o ódio é dessuposição de saber. Mas tal dessuposição exige o amor, pois ela se dá na articulação com a suposição. Novamente: não é possível dessupor sem suposição, assim como não é possível dizer-se ser, sem o “penso”, daí o amoródio que, em francês, equivoca com enamoramento, em hainamoration. Por último, o desenvolvimento do tema também cria uma aposta nossa, para o final de análise, sobre a abertura em direção a um novo amor, como escrevia Rimbaud, que se daria já não na vertente da paixão e sim, do entusiasmo. Que este contagie a todos para participarem de nosso Encontro Nacional que, em breve, se inicia!
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Coordenação local:
Cléa Ballão
Cláudia Leone
Cláudia Valente
Fernanda Histher
Glauco Machado (coordenador)
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Robson Mello
Thamy Soavinsky
Comissão Científica:
Adriana Grosman
Bárbara Guatimosim
Felipe Grillo
Ida Freitas
Leila Equi
Terezinha Saffi
Glauco Machado
Sonia Alberti (coordenadora)
Equipe de Prelúdios:
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Zilda Machado
Coordenação Nacional: CG da EPFCL-Brasil:
Robson Mello – diretor
Julie Travassos – secretária
Juliana Costa – tesoureira