Prelúdio 15 – Arlindo Carlos Pimenta
A demissão depressiva na contemporaineidade
Se Freud, no final do século XIX e inicio do século XX, aprendeu com as histéricas – relegadas pela medicina- e a partir de seu aprendizado criou o discurso psicanalítico, que poderíamos nós no inicio do século XXI aprender com os deprimidos?
Podemos marcar bem a diferença entre a melancolia (pouco alterada em sua forma de apresentação) e depressão dita como o mal do século.
Lacan afirma que a estrutura é trans- histórica, mas o sintoma não é.
Neste sentido é muito importante que estejamos atentos a “subjetividade de nosso tempo”.
Podemos marcar, neste sentido, dois pontos importantes que têm gerado consequência.
O primeiro decorrente de uma alteração no discurso do mestre gerando o discurso do capitalismo.
O segundo refere-se ao grande desenvolvimento das neurociências financiadas pelo capital internacional levando à retomada pela psiquiatria da velha questão do século XIX, a saber, a etiologia orgânica do sofrimento psíquico. A mitologia cerebral que se segue está agora embasada nos neuroreceptores, levando à negação da subjetividade e das estruturas clínicas.
É proposta até uma nova abordagem classificatória onde tudo é reduzido aos “transtornos”.
Segundo Colette Soler, os depressivos não procedem de uma geração espontânea.
Além dos fatores já mencionados podemos acrescentar a experiência feita da morte do Outro, cuja derrelição foi posta a descoberto, deixando- nos na falta tanto no que se refere às antigas crenças no Universal quanto às grandes causas do passado.
A depressão até agora foi apresentada como um estado afetivo sem se constituir em uma estrutura neurótica própria.
Porém a forma de apresentação dos deprimidos na pós-modernidade, traz algumas questões importantes que nos faz coloca-la como uma “posição depressiva” presente na histeria ou na obsessão, complicando sua abordagem.
Até então a característica principal dos depressivos era a tristeza (covardia moral). Parece, no entanto que nos tempos atuais o acento maior deve ser dado à inibição.
Tal característica leva estes sujeitos a ocuparem a posição de demissionários da vida, com reflexos importantes em seu modo de existir e em sua temporalidade, quem sabe consequente à derrelição do Grande Outro, característica importantíssima do discurso contemporâneo.