Cartel
Propor-se à formação em uma Escola de Psicanálise tem como uma de suas implicações participar de um Cartel tal como Lacan sustenta desde a fundação da Escola Freudiana de Paris, em 1964. Lacan apresenta o Cartel como órgão de base em sua proposta de formação de psicanalistas e transmissão da Psicanálise justamente no ano de sua “excomunhão” da IPA. Não por acaso, avesso aos efeitos de grupo, ele sugere que seja a transferência de trabalho o motor de funcionamento do Cartel.
Cartéis são pequenos grupos de trabalho em que três a cinco pessoas se escolhem a partir de um tema em comum. Depois, elegem mais-um, cuja função é a de provocar cada um no avanço de sua pesquisa e de barrar os efeitos de grupo, fazendo circular a palavra. Ao final, depois de, no máximo, dois anos de duração, espera-se que cada participante apresente um produto, consequência desse tempo de trabalho. Assim, incluir de saída um término para o Cartel é colocar o princípio de dissolução no centro dessa estrutura para que, ao final, seja possível se descolar desse pequeno grupo. Descolar e poder endereçar sua pesquisa à comunidade analítica é o que se espera de um cartelizante, fazendo, desse modo, “Escola”. A entrada na formação psicanalítica por essa via faz trabalhar aquilo que causa um a um em sua escolha pela Psicanálise. Fazer parte de um Cartel depende de um desejo decidido por essa escolha.
As produções finais dos cartéis são apresentadas regularmente em Jornadas de Cartéis, que podem ser regionais ou nacionais. Em âmbito nacional, a Jornada de Cartéis da EPFCL-Brasil é anual e ocorre dentro do Espaço Escola de nossos Encontros Nacionais. Esse Espaço Escola, organizado pela CLEAG, é destinado ao debate das questões cruciais relativas à formação do psicanalista e à transmissão da psicanálise: garantia, nomeação, passe e cartel, dentre outras.
Anualmente, a CLEAG organiza, em conjunto com a CG da EPFCL-Brasil, um Catálogo Nacional de cartéis.
Catálogo de Cartéis
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Passe
O dispositivo do passe foi proposto por Jacques Lacan em 1967, três anos após sua exclusão da IPA. Mais especificamente, ele o apresenta em sua magistral “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”, na qual abre novamente o debate sobre a questão da análise didática. Lacan propõe o passe como um dispositivo inédito, que visa interrogar a análise do analista, ou seja, “a passagem de psicanalisante a psicanalista” e oferece aos psicanalistas uma possibilidade de por à prova o ponto de finitude do percurso de uma análise, especialmente aquele que permite a virada de analisante à analista, com a emergência do desejo de analista. Este dispositivo está referido à tese prínceps de Lacan: em seu ato “o psicanalista não se autoriza senão por si mesmo”. E é por isso, precisamente, que se faz necessário um controle, já que essa tese não implica, entretanto, que qualquer um pode ser psicanalista.
O dispositivo está construído sob o modelo do chiste. O analisante, nomeado passante, que tem a convicção de ter chegado ao fim de sua questão de analisante, se oferece para dar testemunho de sua passagem a analista. Ele o faz diante de dois passadores. Os passadores, por sua vez, são designados por seus analistas (AME) que, em função do momento preciso dessas análises, os consideraram aptos a escutar aquilo que atesta a virada a analista no testemunho do passante.
Esses dois passadores transmitem o que elaboraram do testemunho do passante para um júri, que se pronuncia e, eventualmente, autentifica o testemunho com o título de A.E., título criado por Lacan e que nomeia o Analista da Escola.
Desde sua entrada em funcionamento, em 1969, o dispositivo esteve no centro de várias crises institucionais e, notadamente, na dissolução da EFC em 1980.
A EPFCL – Escola Internacional – escolheu inscrever o passe no coração de seu funcionamento e, assim, procura sustentar a opção de Lacan que é a de vincular o destino da psicanálise à manutenção da questão sobre o desejo do psicanalista. Na EPFCL, a função do júri é assumida pelos chamados Cartéis do passe. Esses Cartéis são compostos pelos membros eleitos para o Colégio Internacional de Garantia (CIG) e são multinacionais, plurilinguísticos e de duração transitória.
Textos de Referência
Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola
Nota Italiana
Introdução à edição inglesa do Seminário XI