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Prelúdio 15 – Silvana Pessoa
“Situação da psicanálise em 2016 e formação dos psicanalistas”
Preparando o próximo Espaço Escola em São Paulo

Lacan fundou uma Escola. Ele fez Escola. Até o final da sua vida acompanhou diversas pessoas em análise, formou muitos analistas. Nós, do Campo Lacaniano, um dos herdeiros da sua transmissão, decidimos constituir Fóruns cujoprincipal objetivo “é sustentar uma Escola de Psicanálise que permita assegurar o estudo da psicanálise e orientar sua prática. ” [1] Em 2016, sessenta anos após o texto de Lacan A situação da psicanálise em 1956 e a formação dos psicanalistas,[2] gostaríamos de dar conta, para um público maior, da situação real e da formação dada, como desejou outrora Lacan no texto supracitado e que inspira este prelúdio.

A nossa Escola foi criada em Paris há 15 anos, por ocasião do II Encontro Internacional dos Fóruns. Ela foi nomeada de Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano e, orientada pelo ensino de Freud e Lacan, tem por objetivo específico o retorno às finalidades da Escola de Lacan: apoiar a elaboração e a transmissão da psicanálise, a crítica de seus fundamentos, a formação dos analistas, a garantia de sua qualificação e a qualidade de sua prática. Para dar conta deste intento, mantivemos na nossa Escola seus dois pilares fundamentais: o cartel e o passe.

Aqui no Brasil, podemos testemunhar que novos carteis cessam de não se inscrever e muitos deles chegam ao seu termo em até dois anos. Provocam deslocamentos, desfazem efeitos imaginários, não negam o real em jogo na formação do psicanalista e favorecem a produção de trabalhos. Mais além das Jornadas de carteis já existentes, inventamos na nossa comunidade diversas modalidades para entender melhor o dispositivo, a fim de nos engajarmos nele e acolher as suas produções: Cafés, Debates, Rodas, Seminários, Conversas, Espaços Escola … Tantos e diversos são os “com, de, sobre…” carteis que a palavra circula, provoca ritornelos, desejo de saber e convoca o trabalho. No final de 2015 tínhamos aproximadamente 300 pessoas retomando as indicações dos Escritos nos 59 carteis existentes, número sempre crescente por aqui. Isso é bom, mas o melhor é o movimento necessário de enlaçamentos e rupturas que geram novos enlaçamentos, rupturas…

Quanto ao Passe, ele está entre nós, muitas vezes falando baixinho, mas em franco funcionamento. Nos diversos Fóruns do nosso campo brasileiro e da América Latina norte e sul, os delegados e coordenadores trabalham em diversos textos conceitos cruciais, tais como o desejo de analista, final de análise ou nomeação, que por vezes provocam em alguns o desejo do testemunho.

Os AMEs, por sua vez, trabalham a direção da cura e escutam nas suas análises “sinais do fim” e o sutil instante em que algo se decanta em cada um e provoca, quando possível, a indicação de um passador. Estes, quando designados e sorteados, executam seriamente a sua função. Escutam e se transformam com a escuta. O testemunho colhido e transmitido ao Cartel do Passe reverbera na sua análise, traz nova perspectiva. Aquele a quem escutaram, ser ou não nomeado, não faz a menor diferença. O que importa foi ter sido afetado pela experiência e que os integrantes dos Carteis produzam algo a respeito, como vem sendo feito regularmente.

Diante deste cenário, podemos dizer que a situação da psicanálise neste campo “vai bem, obrigado”. Mas, o que nos faz, ainda, interrogar num encontro nacional sobre os problemas cruciais para a psicanálise na atualidade e colocar “na berlinda”, a cada vez, a formação dos psicanalistas? Interroga-se em um dos prelúdios. A resposta é dada: uma “aposta de que os fóruns sigam articulando e movimentando sua Escola e que a Escola siga seu compromisso ético da transmissão.” Eu acrescentaria: fazendo entre nós e “alguns outros”, uma crítica assídua dos seus fundamentos, da difícil tarefa de transmissão da psicanalise e do ato analítico. Assim tem sido.

Fazemos também Escola quando nos colocamos perguntas e nos deslocamos entre outros, dentro e fora do Campo Lacaniano, para pensar e fazer a psicanálise circular pelas atividades de pesquisa e transmissão nos Fóruns, Diagonais Epistêmicas, Encontros Nacionais, Internacionais, Universidades e/ou nos meios de comunicação. Todas essas atividades orientadas por uma ética que circula e movimenta o campo em extensão, que faz a transmissão da letra da doutrina freudiana e que resulta na formação dos analistas, dispersos e disparatados, sustentada num corpo de trabalhadores decididos advertidos de onde vem a fala e dos princípios do seu poder.

“Avanços” medidos pelos resultados, mas nem de perto uma situação de conforto. Mesmo tendo “atravessado” algumas das críticas levantadas por Lacan neste texto de 1956 aos colegas da IPA, e, apostando permanentemente no compromisso ético e na crítica assídua para tratar dos problemas cruciais para a psicanálise, convocamos a todos que circulam pelo nosso campo lacaniano, nas bordas e no centro do turbilhão, a colocarem sua voz, apresentarem seu texto e sua reflexão, no próximo Espaço Escola em São Paulo, cujo tema será A situação da psicanálise em 2016 e a formação do psicanalista.

Queremos ouvir o que têm a dizer sobre o tema geral e debater com os interessados as estratégias para manter as finalidades da Escola, os efeitos recolhidos nestes 15 anos de existência, 60 anos após o texto de Lacan A situação da psicanálise em 1956, quanto à garantia da qualificação dos analistas e a qualidade de sua prática; o desejo de analista (o desejo inédito, posto que advindo de uma análise), a experiência no passe e a sua incidência na clínica e na política na nossa Escola; os avanços e impasses da psicanálise nas instituições e das instituições psicanalíticas.

As propostas de trabalho deverão ser dirigidas para a CLEAG, para o e-mail cleag.1416@uol.com.br até o dia 30 de setembro. O trabalho final deverá ter 7.500 caracteres (com espaço) e ser entregue até o dia 30 de outubro.

O desafio está lançado! Que tomem para si os que desejarem!

São Paulo, 28 de agosto de 2016

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[1] http://www.champlacanien.net/public/4/ifPresentation.php?language=4

[2] LACAN, J. A situação da psicanálise e a formação do psicanalista em 1956. In: Escritos – Rio de Janeiro: Jorge zahar, Ed., 1998. pp 461-495.

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