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A psicanálise entre saber e verdade

“Viva Belém
Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial
Beleza eterna da paisagem
Bembelelém…”
(Manuel Bandeira, Belém do Pará)

Ao escutar sobre o lugar que abrigará o XXIII Encontro da EPFCL-Brasil lembrei-me, imediatamente, dessa estrofe do poema de Manuel Bandeira. O tilintar sonoro “Bembelelém” invita, então, para estarmos juntos neste cenário abraçado por Igarapés e Igapós na Amazônica Floresta guiados pela Régia Vi(a)tória do nosso tema litorâneo: A psicanálise entre saber e verdade.

Vivemos em um tempo em que “a verdade” se torna relativa, uma vez que o negacionismo faz barulho e as fake News proliferam. Como se ao descobrir que a verdade é sempre mentirosa, o discurso corrente tivesse feito disso uma conjuntura para tirar vantagem. Frente a esse oportunismo, a ciência, por sua vez, responde com a produção de um saber sobre o real, enquanto, da causa, ela nada quer saber.

A verdade no discurso analítico, apesar de ainda se desvelar em sua dimensão não-toda, aloja um saber diferente. Nem relativismo, nem pretensão de recobrir com o saber, a verdade presente na psicanálise, incide na própria carne (1955) e refere-se à experiência com a castração, ao impossível da relação sexual e ao ponto de emergência do sintoma. O arredamento estabelecido entre saber e verdade aponta para a emergência do gozo nas bordas e lituras da relação com o Real.

Embora hoje, de antemão, tenhamos acesso ao irredutível para o qual esse percurso dos passos psicanalíticos aponta, é oportuno retomarmos, nesse momento de nossa experiência, a especificidade que esses termos comportam, tanto em Freud como em Lacan. Em Freud, o desejo decidido e a escuta clínica levam a supor um saber inconsciente no sintoma e uma constante busca pela verdade do sujeito, verdade essa que esbarra, ao final de uma análise no seixo do complexo de castração. Quanto à Lacan, a topada com essa pedra se tornará o pivô em torno do qual se desdobrará a dialética entre saber e verdade, tão somente no ponto em que o encontro com a falta no Outro esboçará o limite em que o falasser é convocado a fazer algo com isso.

Isso posto, teceremos neste Encontro da nossa Federação, um percurso pelo Ensino de Freud e Lacan que vai de um saber que segue o rio dos amores com a verdade, passando pelo paralelo entre saber e verdade, indo até a sua disjunção que, em Lacan, traduz o sinal em que o saber não sabido, insabido do inconsciente revela a estrutura não-toda da verdade e convoca a enunciação de um dizer.

Diante dos desafios que a clínica nos coloca hoje, a resposta ética do analista implica em acentuar aquilo que tange à intensão, levando em consideração esse lugar entre saber e verdade que é, justamente, onde se desenrola a interpretação analítica, permitindo por sua operação que um sujeito possa se deslocar, indo desde sua busca pelo sentido (Eu, a verdade, falo-1968-69) até seu esvaziamento, numa abertura ao equívoco ( A verdade faz furo ao saber – 1971). E é, sobretudo, a interpretação do analista que permitirá restituir o valor da verdade enquanto separada do sentido e, no entanto, não universalizada.

Que possamos cuidar, desta maneira, de nossa constante e contínua Formação, nos preparando para este instante-lugar com portas abertas para os debates em que as linhas tracejadas toquem a intencionalidade da psicanálise dirigindo sua extensão!

Convido, em nome da coordenação da Comissão Científica deste Evento, para que todos se preparem e salvem as datas de 16 até 19 de novembro para nos encontrarmos em Belém do Pará.

Tatiana Assadi (Coordenadora da Comissão Científica)

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